
Relações afetivas e redes sociais.
Você já se questionou em que momento normatizou- se que “dar like em stoy e em fotos” é equivalente a paquera/ ter interesse ou até mesmo traição?
Provavelmente não, e se sim, possivelmente não obteve respostas.
É natural do humano seguir o que a sociedade normatiza. O humano faz parte do meio, e o meio faz parte do humano.
A questão é: quanto isso faz sentido pra você? O quanto mesmo não fazendo você reproduz?
A tendência das redes sociais é cada vez mais coisificar o humano ( monetizar também, mas explorar isso não é o foco no momento – fiquemos apenas com a informação de que, o que tem preço é coisa, serviço – e não gente)
Anúncios, tutoriais, influenciadores vendendo conteúdo de diversas maneiras para “aprimorar” habilidades pessoais (inclusive sobre conquistas amorosas), conteúdos aleatórios viralizados – como li numa postagem de uma pessoa muito querida esses dias: e vírus é bom desde quando? – ou até de nós, meros profissionais da saúde que “para sermos vistos” precisamos criar conteúdo. – Pera lá. Estudei psicologia, não marketing digital. – Enfim, uma série de conteúdo que passaria uma eternidade escrevendo, voltarei ao foco : as relações pessoais.
Em gestalt terapia pensamos o homem como ser sempre em relação – seja com o ambiente, como o outro e consigo mesmo. E quando tratamos de redes sociais, alguns questionamentos podem surgir: a relação ali estabelecida é como o que ou quem especificamente? com aquilo que o outro é ou com o que aparenta ser? Parecer e ser são coisas muito distintas, mas que no processo de coisificação do humano podem se misturar. Parecer diz mais respeito ao olhar do outro enquanto ser diz respeito a manifestar aquilo que realmente é. E convenhamos, em redes sociais o parecer gera mais engajamento do que o ser. É um experimento até interessante de se fazer: uma postagem com filtros e demais artifícios para PARECER interessante, ou uma real, crua, sem maquiagem ou filtros, mostrando aquilo que se É, qual terá mais “ likes”? A resposta é óbvia. A rede e seus usuários não querem expor “defeitos” ou “falhas”, porém ser o que se é, se mostrar com realidade pressupõe-se a aceitação integral do ser, onde não há certo ou errado, há características humanas, falhas, defeitos, assim como também as qualidades, que por vezes ficam até ocultas na necessidade do parecer.
E o que isso tem a ver com as relações? Especialmente as amorosas, que citei ali acima? No meu ponto de vista, tudo. As redes trazem a ilusão de um mundo paralelo – o que não é – e a partir do momento em que o humano é coisificado e desconsiderado de ser um corpo-no-mundo, a relação que as pessoas vão ter ali, também se coisifica. Citando Martin Bubber (filósofo Austriaco existencialista), o EU-TU (relação ) se torna EU-ISSO (de experienciação), trazendo as relações ao raso, à liquidez de Bauman. É o isso, o objeto da angústia, o que mobiliza a energia do interesse deixa de ser a pessoa em si, mas se torna o ato de “dar um like”. O que supostamente teria a utilidade de aproximar as pessoas (e com seu bom uso de fato o faz), acaba por separar e tornar as relações mais difíceis, por atos e angústias virtuais. E claro, não posso deixar de falar sobre a falta de diálogo que os tais likes estabelecem, né? É bem provável que uma relação baseada em curtidas de fotos ou demonstração de interesse virtual será uma relação líquida. Relação humana necessita de diálogo. O não diálogo é gerador de angústia, incerteza e ansiedade. E isso em todos os âmbitos, reais ou virtuais. Dialogar esclarece ações – às vezes a pessoa com quem você se relaciona atribui outro significado ao uso de redes. É preciso saber qual é para não haver tanta interferência.
E não, não condeno o uso de redes, nem essa movimentação que muitas pessoas fazem ao se utilizar delas. O objetivo desse texto é exatamente trazer à luz a reflexão de como está a sua relação com uso de redes, ou como isso pode interferir em diversas relações sendo uma questão não real, mas contemporânea. A psicoterapia também é pra isso. Como dizemos em gestalt, para trazer awareness, inclusive em tais aspectos, como relações em redes sociais.